Há dias em que me assusto com o mundo. Nesses dias, apetece-me esconder a cabeça e fingir que não estou a ver. Pode ser que passe depressa por mim, neste meu canto do mundo, sem fazer dano. Infelizmente, ou felizmente, não consigo fazê-lo.
As minhas convicções e princípios são fortes, o meu coração já aprendeu a sofrer e a sarar por isso assusto-me principalmente pela minha filha.
Quero que ela seja forte, quero que o amor que lhe dou estimule as raízes das sua autonomia e independência. Quero que ela aprenda a sofrer com a vida e que isso não a derrube. Quero que saiba que o meu colo será sempre seu, tenha ela 5 ou 50. Quero que aprenda a ver a beleza em todas as manhãs. Quero que ela saiba que dentro dela existe uma luz de integridade, generosidade, bondade e amor que ela não pode deixar que ninguém amachuque, manche ou escureça. Quero que ela respeite todos os seres humanos, animais e plantas, toda a vida que existe, todos os seres e exija o mesmo para si. Quero que ela saiba que o mar pode ser vermelho, que a areia pode ser preta, que não precisa de beber o leite todo, que pode sujar a roupa, usar o bacio só quando lhe apetecer, que não tem de deixar de sonhar com luas cheias e deixar de ler livros todas as manhãs, que aprender é uma viagem maravilhosa, que todos somos diferentes e aprendemos de formas, maneiras e ritmos diferentes, que não precisamos de ser obedientes e fazer como todos fazem, que na escola se fazem amigos.
Quero que ela saiba que não existe amor a mais, só a menos. O meu será sempre dela.