domingo, 6 de abril de 2014

Dói-dói

O tempo passa e quase dois anos depois amo a minha filha de uma forma gigante. Em certos momentos, de uma forma doidivanas mesmo. O coração expande e dilata dentro do peito quando ela gargalha, quando os seus pequeninos braços aninham o meu pescoço no meio deles, quando a oiço respirar adormecida no meu colo. 
Na sexta-feira, ao cair da noite, percebi uma coisa assustadora. As crianças caem por uma razão, seja ela perceptível para nós ou não. Seja porque precisam de aprender, de conhecer os limites do mundo ou simplesmente porque assim tem de ser... A culpa é sempre nossa, é claro. Não os conseguimos proteger, não os conseguimos salvar do malfadado dói-dói. Pelo menos, garanto-vos que é assim que o sinto. E é nessas alturas, quando eles caem que o nosso coração volta ao tamanho normal. O nosso coração de mãe que anda dilatado dentro do peito, sempre pronto a rebentar de amor e orgulho, encolhe de repente provocando uma dores horríveis e quase insuportáveis. Ficamos cegas por momentos, o ar fica rarefeito, o grito que soltámos involuntariamente volta para dentro mais depressa do que saiu e, num ápice, somos o chão, o colo, o ninho daquele corpo, daquele choro. Queremos fazer coro mas não podemos, agora a mãe somos nós. Toca a engolir as lágrimas, a aguentar estoicamente a cruciante dor no peito. 
Ela está bem, a queda nem uma nódoa negra pequenina deixou para acrescentar à historia. Ainda bem. Ela está bem, eu já não sei se estou. 

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Escrevam-me de volta. Gosto de saber que não estou a "falar" sozinha.... :-)