O meu telemóvel tem uma lista pequena de números favoritos, os números das pessoas mais perto de mim, aquelas a quem telefonar se um cano rebentar, se me doer a cabeça, se me apetecer chorar porque estou a ter um dia particularmente mau, se um pneu furar ou se tiver que ir a correr para o hospital. O R encabeça essa lista. É uma lista pequena porque apesar de me sentir uma abençoada são poucas as pessoas a quem poderia pedir ajuda em qualquer um ou todas as situações acima.
Hoje, depois de me trancar na rua com a minha bebé a dormir no sofá, depois de chorar ao telefone em desespero porque não conseguia abrir a porta com a chave enferrujada das emergências, depois de abrir a porta e perceber que a minha pequena Sara continuava a dormir pacificamente, sentei-me no sofá, olhei para o telefone e reparei pela primeira vez numa semana e dois dias que vou ter que apagar o número cinco da minha lista de favoritos.
Vou ter que apagar aquele número. Pelo tempo verbal que usei na frase anterior dá para perceber que ainda não o fiz. Não consigo mesmo. Se eu ligar, ninguém vai atender. O vazio de um número de telemóvel a lembrar-me, com demasiada força, o vazio que perder alguém que amamos nos deixa.